Antônio..., nasceu uma pessoa comum. Teve, ainda lá pela juventude, problemas de família que fizeram dele um forte. Forte de personalidade; forte para o trabalho; forte para os sonhos, enfim..., forte para a vida.
Um dia, não sei quando, alguém apresentou a ele..., o carnaval. E talvez tenha havido uma espécie de paixão à primeira vista, sim, paixão, não amor, porque aquilo que sentia, era mais, muito mais que amor.
Quando se aproximava o início do ano lá estava ele, pronto, a dar início a própria realização e começar os preparativos para o desfile da escola de samba que tanto amava.
É, aí sim existia amor; o amor perene; amor que dói; amor que alimenta os sonhos; amor que alimenta a vida, mas..., que dava um trabalho...,
..., Como era forte também para isso, lá ia ele, serrando uma madeira aqui outra ali; soldando um ferro ali e outro acolá; colava um adereço aqui, amarrava outro mais adiante; e nessas idas e vindas no barracão da escola, muitas vezes branco pelo cansaço e por pequenos descuidos pessoais, com cortes nos dedos, literalmente..., dava o sangue pela escola.
Curioso é que até isso, mostrava a paixão dele. O branco do cansaço e o vermelho do sangue, se coadunavam com as cores da escola. Vermelho e branco, vermelho e branco. E quando essas cores se uniam numa só bandeira, lá estava o Antônio. Alto, de ossatura larga, homem com estatura acima da média que poderia ser tudo numa escola de samba, contudo, pensá-lo como Mestre Sala, era quase impossível para quem não o conhecesse.
A figura mítica do personagem, tão cantada e decantada em verso e prosa como sendo magistral; de mesuras refinadas; trigueira; serelepe; leve; ágil; esbelta, fina mesmo nos procederes, sempre encarnada por uma pessoa com estatura mediana e aparência pequena, era impensada por quem conhece carnaval, para um Antônio..., como ele. Mas, bastava colocar a fantasia e o costeiro ser posto sobre ombros daquele homem grande e simples, que era como se ele vestisse sonhos.
Então..., se agigantava, se incendiava com um fogo que vinha de dentro; um fogo quase primal; um fogo que ao invés de queimar..., apenas acendia-o e iluminava-o. E surgia na avenida, um Mestre, não só o..., Mestre Sala, porém, um mestre no sorriso; um mestre na condução da porta bandeira; um mestre na orgulhosa função de honrar o pavilhão que defendia. Antônio honrava acima de tudo, um título, um título que era a ostentação do nome da escola. Antônio era sim um "Embaixador Da Alegria".
Antônio era magistral. Com estudados gestos firmes e ao mesmo tempo suaves, aquele homem grande se mostrava refinado. À volta da Porta Bandeira evoluía trigueiro com a leveza da felicidade. Em meneios leves e ágeis detinha o movimento circular da bandeira pra mantê-la aberta e mostrá-la ao público, reverenciando como poucos dos grandes, o pavilhão amado.
Hoje, para muitos, Antônio é só saudade.
Ele se foi..., precocemente é verdade.
Foi se juntar a tantos outros que preparam por lá, onde quer que isso seja, um maravilhoso desfile dos grandes mestres.
Quem sabe, possa a humanidade um dia aprender a como se incendiar de paixão sem se queimar; a amar de verdade aquilo que abraçar como bandeira; a viver intensamente e com plena felicidade os momentos de glória, tão passageiros, a que se destinou por merecimento.
Vai com Deus..., Antônio.
Sua lição de amor por aquilo em que se acredita..., não será esquecida.
Olinto Simões