Espelhado
Flagrei-me olhando firme meu rosto.
E ali, naquele instante eterno,
Vi a criança que um dia fui,
O jovem, que um dia gostei de ser,
Notei o adulto, que existindo feliz,
Acariciava os agora em cima poucos,
Mas fartos laterais e grisalhos cabelos.
A fase da infância vi na falta de rugas,
A juventude no romantismo teimoso,
Que ainda sonha com musas encantadas,
A vida adulta na experiência estampada,
Da alegria imortal que mantenho em vivência,
E da agora fase que chamo de conhecimento.
Vi-me naquele reflexo espelhado,
Onde tudo se mostra ao contrário,
Como alguém mui próximo e conhecido,
Inimigo de quem longe se mantém entorpecido.
E num piscar de olhos suave mas pertinente,
Novamente me encontrei em época desconhecida,
Era eu..., e não era..., a um só tempo,
Embora me conhecesse, me desconhecia,
Todavia me visse, não me enxergava,
Sabia-me eu próprio real e também intocável.
Vivi como "Ser", a experiência inusitada,
De saber-me consciente eterno no ontem,
Para ser inconscientemente perene no amanhã,
E assim nessa mescla evolutiva senti o valor do hoje.
Lembrei de quantas fotos tirei,
Pequeno, crescido, grande,
Brincando, emburrado, comendo,
Dormindo, trabalhando, cenas gravadas,
Sozinho, acompanhado, em grupos,
Fotografias em papel e projetadas.
Senti enorme valor no acontecido,
Lembrei do quanto li, estudei e quis aprender,
Sobre a vida, o transcorrer do princípio ao final,
Contudo disso nada ao "Humano" se desvela,
E como disse um poeta que não conheço,
Não creia nos meus retratos, nenhum deles me revela.
Olinto A. Simões
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